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 31jul 

A força das articulações regionais na trilha da inovação

 

Juliano Alves Pinto é graduado em Relações Internacionais pela PUC-Minas e mestrando em inovação tecnológica e propriedade intelectual pela UFMG; diplomata, lidera, desde o ano passado, o projeto “Diplomacia da Inovação”, fruto de parceria entre o Escritório do Itamaraty em Minas Gerais e a Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG), com o objetivo de aproximar o ecossistema de Belo Horizonte das principais praças inovadoras do mundo. Na Expoinovação 2018, de 14 a 16 de agosto, no Teatro Juarez Machado, apresenta a palestra: “Cultura empreendedora do Vale do Silício”.

 

Recentemente, foi anunciada a instalação de centro global de pesquisa e desenvolvimento da empresa californiana Hyperloop Transportation Technologies na cidade de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte (MG). O ineditismo da vinda da Hyperloop TT ao Brasil se deve ao fato de que jamais se havia vislumbrado a possibilidade de que tecnologias de ruptura de impacto global como as que a empresa apresenta pudessem ser desenvolvidas no país. A tecnologia hyperloop, fruto de plataforma aberta lançada pelo visionário da tecnologia Elon Musk em 2013, permite que cargas e pessoas sejam transportadas em cápsulas propulsionadas por ar comprimido através de tubos a vácuo, a velocidades superiores a 1.200 km/h, ou seja, ultrapassando a barreira do som.

Para além do impacto que uma tecnologia desse calibre pode gerar junto ao ecossistema local – sobretudo por meio da intensiva mobilização de recursos e talentos, além de se ampliar a própria capacidade de atrair centros de P&D semelhantes –, ressalte-se que a vinda da Hyperloop TT para Minas Gerais foi produto de intensa participação de atores da cena inovadora mineira, com destaque para a liderança da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) nessa complexa articulação  que trouxe, à mesma mesa, o Governo de Minas Gerais, a Prefeitura de Contagem, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), bem como empresários e investidores locais, além do próprio Ministério das Relações Exteriores, por meio de seu escritório de Diplomacia da Inovação em Belo Horizonte. Trata-se de uma abordagem típica no modelo de tripla-hélice, em que Governo (em suas três esferas), Indústria e Academia trabalham de forma coordenada, com vistas a um propósito transformador comum.

Em que pesem iniciativas positivas no âmbito federal para se atrair centros de P&D estrangeiros, encabeçadas em sua maioria pela Apex-Brasil e pelo Ministério da Indústria, do Comércio Exterior e dos Serviços (MDIC), chego à conclusão de que as articulações regionais são ainda mais eficazes que as nacionais, em face da difícil missão de trazer instituições e empresas de alta tecnologia ao Brasil, competindo diretamente com países tais como China e Índia, cujas vantagens competitivas dispensam credenciais. Após a experiência da Hyperloop TT em Minas, fica claro que, num país de dimensões continentais como o Brasil, é preciso reforçar a noção de ecossistema, em que as principais instituições e atores locais dialogam, cooperam e colaboram entre si, criando um modelo de governança da inovação capaz de prevenir problemas, antecipar soluções e garantir a sempre almejada continuidade em projetos de caráter estratégico.

Tive a imensa satisfação de contribuir para o sucesso dessa empreitada, oferecendo os bons ofícios do Itamaraty na articulação entre atores, em complemento ao esforço encabeçado pela FIEMG, além de garantir a devida agilidade na concessão de vistos a engenheiros, pesquisadores e executivos de múltiplas nacionalidades, em contato direto com Embaixadas e Consulados mundo afora, com destaque para o Consulado-Geral em Los Angeles. Este foi o primeiro grande resultado do projeto Diplomacia da Inovação, que tem como simples objetivo pensar e apresentar soluções rápidas e eficazes a demandas junto a parceiros no exterior, pontualmente encaminhadas pelos ecossistemas locais, sem qualquer custo ou clamor por protagonismo.

Mais importante do que tudo isso, porém, é ver que Minas Gerais, já vista como um benchmarking para o Brasil em matéria de inovação, sendo referência em startups e programas de aceleração, consegue passar uma imagem de maturidade e visão de longo prazo que ainda não encontra par no resto do país, mas que ajuda sobremaneira a que o Brasil se afirme, cada dia mais, como potência geradora de conhecimento e múltiplas oportunidades na excessivamente competitiva Nova Economia.

 

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