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 22fev 

É preciso que se dê um tempo

 

Texto: Ana Ribas Diefenthaeler

Fonte: A Notícia

Estava aqui me lembrando de que não faz muito, vivíamos o turbilhão do final de ano. Gosto desses tempos – parece que as pessoas ficam mais afáveis, sorriem mais, estimulam entre si sentimentos muito bons como a solidariedade, o carinho pelo outro, seja seu igual, seja diferente. Só acho meio estranho porque, assim como chegam muito rápido, também se despedem em questão de momentos esses tempos de alegria – que, segundo minha bem-humorada filha mais velha, têm raiz na expectativa que todo mundo tem de… entrar em férias!

Mas também elas, tão esperadas durante o ano, passam rápido. Então percebo que essa aceleração absurda nos persegue a cada minuto. Outro dia, me peguei brigando com o micro-ondas porque o dito-cujo não aqueceu o leite do netinho em 15 segundos – e tive que colocar mais preciosos cinco segundos. E haja paciência para aguardar esse tempo enorme…

Sem parar um instante com minha lida de avó, lembro-me de que, quando criança, fazíamos ovo quente de manhã porque era o lanche mais rápido – atrás, apenas, do pão com manteiga, claro. Sem contar o tempo necessário para a água ebulir, o ovo ficava exatos cinco minutos cozinhando. Quase comida instantânea! Quem tem cinco minutos hoje para doar? Somos tão estimulados a fazer de nossa vida uma verdadeira maratona, que, nos raríssimos momentos em que podemos parar por minutos – ou algumas horas, por que não? – uma horrível sensação de culpa nos impede de relaxar. “Eu poderia estar adiantando aquele trabalho, poderia estar organizando as malfadadas gavetas do bufê da sala, fazendo alguma coisa útil e, no entanto, tenho meia hora livre e posso ler um capítulo inteirinho do maravilhoso livro do uruguaio Benedetti.”

Mas talvez uma das nossas mais alegres e desafiadoras missões seja a de achar tempo para os amigos. A doce expectativa de tomar aquele café ou aquele chope tão adiado com uma amiga especialíssima, com uma parceira de trabalho, com gente que a gente acha muito gente. E trocamos sorrisos e afagos, lembranças e histórias, trocamos presentes, símbolos, carinho. É nossa singela recompensa pela ausência por tanto tempo.

Mas vejamos: já estamos quase no terceiro mês do ano – e quantas vezes você cumpriu aquela promessa do famoso “vamos nos ver mais”? O Carnaval já passou, já está chegando a Páscoa e ainda não conseguimos nos organizar para estar mais tempo com quem amamos. Então, ligue para sua mãe, vença a preguiça e vá tomar dois chopes com as suas amigas, seus amigos, que o tempo, ele mesmo, é impiedoso inimigo. Passa correndo, sem deixar vestígios – só saudades.

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